quinta-feira, 15 de setembro de 2011

7 búzios

7 búzios no colar
7 mantras a entoar
7 aromas a sentir
7 véus a desvelar

Sente o timo timoneiro
navegando em águas claras
respirando no pulmão
mergulhando em grandes vãos

Abraçando o grande mar
sente em si a vibração
no profundo do silêncio
uma escuta, uma oração:

"Estou vivendo, estou aqui
minha nave unida 'a tua
meu cordão tecido ao teu
teu telhado no meu chão

no meu canto o teu olhar
nos teus olhos , a canção..."

Vou seguindo, vou vivendo
sempre ouvindo o coração
sempre olhando aquela estrela
sempre aqui e sempre lá

Cantarolo uma canção...

É preciso saber ( reaprender a ) viver...

Já que música e vida estão intimamente interligadas, acordei com vontade de falar sobre a vida. "Assim na música, assim na vida", diz o antigo adágio...
São somente nomes, tudo está conectado, todos somos um : a mente é única, o ego é o ego do mundo, as dores são de todos, os amores também...E tudo isso se personaliza em cada um de nós!
E só assim , na perspectiva dessa individuação,  é que podemos perceber o que está dentro de nós, o que está no outro etc...E podemos parar de projetar no outro a nossa beleza e a nossa feiúra em transformação(chamo a minha feiúra em transformação de Lado B...)
Todos temos o lado B! Acrescentei " em transformação" porque, na verdade, essa é exatamente a parte que vamos trabalhando e transformando e, aos poucos, isso vai sendo absorvido e integrado  no A, até não termos mais lados ( A,B,C,D...) e estarmos mais inteiros. Chamamos a isso de re-integração! Trabalho de toda uma vida, de muitas vidas...
 A Mãe diz uma coisa muito bonita e honesta como ela "Não tente estar entre os puros.Pegue sua parte no peso, você também, e com um amor total, dê tudo isso".
Pegar a nossa parte no peso exige muita honestidade.
Assim, me ocorre que uma palavra - chave da vida é honestidade . E é difícil exercitar a honestidade no dia a dia! Como dizia um conhecido,   "no atacado a coisa vai, o problema é no varejo"...
Ou seja, quanto ao conceito de honestidade , no geral, todos concordamos (até os políticos), achamos lindo, namoramos a idéia, mas na tradução do dia a dia, trocando em miúdos, vivendo a vida nos relacionamentos, nas amizades, nos trabalhos etc...temos uma vontadezinha danada de empurrar ela pra debaixo do tapete...
Afinal, é doído muitas vezes ser honesto, principalmente consigo mesmo. E a coisa é consigo mesmo, sempre, sendo consigo, será com o outro !
 Como fomos ensinados a idealizar, seguimos fazendo isso na vida.
No trabalho do Pathwork, o Guia fala da auto-idealização , aquela maneira jeitosa  que encontramos de dourar a pílula ( isso já é terminologia da Mãe...)sobre si mesmo. Uma grande cura acontece quando engolimos de verdade a doce pílula amarga...
Acho que todos nós já engolimos umas pilulazinhas bem amargas sobre nós mesmos, graças a Deus!
"Dourar a pílula " pode ser racionalizar, explicar, justificar que " isto é por causa daquilo"," olhe, não é bem assim", "veja bem!"...Quando damos explicações   convenientes , decentes, inteligentes ...
 Nossa mente, mente! Afinal, vivemos num sistema onde a honestidade não é palavra de ordem, o importante é "se dar bem".
E saímos pela vida, tropeçando uns nos outros e tentando " nos darmos bem", achando que isso vai gerar alguma felicidade. Será?
Ser honesto também pode causar desconfortos.Lembro de um conto de S. Maughan , onde havia um personagem - uma mulher - que falava a verdade sempre, e ela ficou sendo uma figura estranha, esquisitíssima naquela sociedade, um bicho meio raro...
Não lembro do final do conto, será que ela se deu bem?...


( Esse texto de outubro de 2010 estava esquecidinho nos rascunhos, relí agora, achei atual e  então publico)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tempo, tempo...

Tempo, tempo, tempo, tempo...
Tempo-rei, ó tempo-rei, ó tempo-rei...Transformai as velhas formas do viver!
Gil sabe muito das coisas! Aliás, pra fazer um Quem quiser falar com Deus, só pode mesmo ser um cara muito conectado!
E fico pensando nesse tempo que passa e como já faz tanto tempo que não sento aqui pra escrever no meu blog. Porque? Poderia refletir que é a "falta de tempo"... 
Mas creio muito mais que tem a ver com um lado nosso de "ir contra si mesmo", ou seja, de não validarmos em nós facetas que gostamos, que são importantes pra nós. Nesse lugar interno, vamos na contramão de nós mesmos, uma outra maneira de dizer que não damos espaço para o que gostamos, para sermos mais amigos do peito de nós mesmos!Velhos hábitos das "velhas formas do viver"...
Tenho certeza que essa famosa falta de tempo dos tempos modernos nos dão uma boa cobertura para as nossas resistências, assim como uma calda caramelada de qualidade ruim que cobre uma sobremesa de primeira, que fica embaixo, espremidinha, e acaba pegando o gosto "docinho" daquele caramelo falso ( aquele doce excessivo não pode ser gostoso de verdade, tem sempre um amarguinho no final...).
E é assim que ficamos contra nós mesmos!Costumo dizer que não precisamos de nenhum algoz, já temos esse tiraninho dentro da gente mesmo e, como está introjetado, haja trabalho interno pra reconhecer, aceitar e transformar...
Satprem, o escritor francês que morou na Índia e foi discípulo da Mãe, já dizia que " o mundo está fechado; a grande aventura agora é dentro". Isso ele escreveu há mais de 30 anos e cada vez mais comprovamos essa verdade: temos imensos mundos internos , alguns espaços já conhecidos, alguns pouco visitados, alguns nem sonhados...e é uma grande aventura irmos, de grão em grão, revelando eles a nós mesmos, conhecendo essa multidão que habita lá por dentro, cuidando e curando a criança ferida, aceitando e transformando o eu inferior, abrindo mão das defesas e máscaras e estando cada vez mais presentes no Eu Real, na verdade que somos. Trabalho difícil e abençoado!

Setembro chegou com as ventanias de agosto. Estou aqui escrevendo , são 12;43 de uma manhã ensolarada de quarta-feira e ouço o vento lá fora varrendo os ares. Sua fala é poderosa! E muitos continuam esperando "quando setembro vier..."... Mas ele só vem se estivermos sintonizados com o "nosso setembro" interno, aí está , e também se tivermos trabalhado direitinho nos julhos e agostos, tirando os matinhos, as ervas daninhas, arando a terra, limpando...! Ventos de outono , como um hai-kai de Bashô , na quase primavera...
O bom é que sempre podemos arar o que não conseguimos arar antes, de janeiro a dezembro e  gira novamente a espiral do tempo...E podemos plantar e colher sempre, a chance é contínua .
Tudo se renova continuamente, tudo é possível a cada momento, o que não foi possível antes, pode ser agora. São escolhas bem objetivas que estão ao nosso alcance.
Eckhart fala do "presente",  continuando o fio de Krishnamurti , e lembro de uma história que Rolf contava sobre o "tempo vertical", que é, exatamente, o momento presente. Nessa percepção do tempo, o tempo horizontal, cronológico, passa a não existir com toda a sua demanda egóica exigente!
Ficamos mais livres, ufa!!

Dentro desse tempo vertical , termino essa postagem.
Vou ficar um pouco só ouvindo e me sintonizando com a música do vento...