quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A chave-cinderela




Faz um tempinho que esse tema tem me intrigado!Como trabalho muito com mulheres, eu própria uma mulher, com mãe- mulher, filha- mulher, amigas- mulheres etc...tenho conhecido e reconhecido a dor oculta e escancarada das mulheres, sua força, sua coragem, seus sonhos, esperanças, buscas...E também tenho conhecido e reconhecido as dificuldades de relacionamento com seus parceiros, suas ( nossas...) queixas, sua vontade de crescer e obstruções a isso, suas desilusões, suas fugas reais ou imaginárias...
E comecei a procurar aquela antiga e sempre nova Cinderela escondida no seio arfante de cada mulher...
Vocês vão me dizer:  - Mas, como assim, nós já fomos 'a luta, já mostramos quem somos, já arregaçamos nossas mangas, batalhamos e trabalhamos, nos afirmamos, provamos a que viemos!!E você vem com essa história de Cinderela??
Pois  é...
Sempre gostei dos mitos, das histórias, das fábulas...Esopo, La Fontaine, os gregos, nossa rica mitologia brasileira desvelada 'as crianças por Lobato, as pequenas sereias, os peter pans, as cinderelas...
Parece-me que, bem incrustada dentro de cada história tem um lugar sagrado, um nicho com joia rara, uma luz que vem da verdade;que a gente precisa investigar, descer nos seus porões, procurar analogias, ir fazendo sínteses etc...
E tanto e tanto já se foi estudado sobre tudo isso!! Os junguianos que o digam!
Mas agora quero, a partir do conceito, ir entrando na experiência, que, pra mim, é o que mais vale.
Tenho me debruçado  sobre isso, com afinco.Tenho tido muitas experiências em primeira pessoa, insights,  lido muito, observado atentamente.
Outro dia, conversando com uma senhorinha de quase 90, percebi o quanto ainda esperava "seu príncipe" no silêncio do seu coração - claro que sem nenhuma consciência disso.E o quanto se sentia desiludida " por ele não ter chegado"...
Cinderela não tem idade.Ela é atemporal e mora no palácio do nosso inconsciente coletivo, sempre assistida pelos escravos da ilusão, do medo, das fobias, do emocional dolorido e  imaturo - que a mantém viva lá.
Por isso ela é escrava, a Gata Borralheira , que deve ter continuado escrava ao partir na sua carruagem luxuosa depois do casamento ( claro que o conto só vai até aí...), porque o ato de "casar com o príncipe" não significou libertação. Significaria o começo de uma nova fase, da descoberta do seu labirinto interno, do encontro com a própria dor, da sustentação e conhecimento dessa dor, das suas muitas feridas, do início do seu caminho de cura. Que momento importante quando ela parte para isso,para um começo de vida. Mas...ela, apoiada por toda uma sociedade imatura como ela, por eras e eras, terá dificuldades em dar passos para libertação. Pois está sob encantamento severo, rendida 'as ilusões, entregando a responsabilidade da sua vida " ao outro". Pobre príncipe, também ele um Peter Pan , precisando urgentemente crescer e amadurecer,  preso na Terra do Nunca...

Não, não pensem que lamento tudo isso, ao contrário!

Vejo neles, cinderelas e peter pans, nossas chaves valiosas, pertencentes a homens e mulheres, para sairmos desses encantamentos do inconsciente e irmos para a luz do sol.
Caetano diz que tudo é " o avesso, do avesso, do avesso". E é!
Tudo é o contrário do que parece.
No fundo da maior inconsciência está a chave da maior consciência, a chave da libertação.
A mulher tem sua chave-cinderela, o homem tem sua chave- peter-pan!
Parceiros de crescimento, usando os espelhos um do outro, um para o outro. Embora , sem o outro também, a chave é de cada um.

Pirlimpimpim, 1,2,3...usando!! ( ah, se fosse só assim...mas a travessia é longa, longa  e trabalhosa, heroica mesmo, embora apoiada pela energia desses novos tempos, o que significa que estamos seguros nesse trabalho, simplesmente porque queremos conhecer, nos conhecer, ir adiante, crescer, amadurecer...)

E caminhamos. A luz do sol da alegria nos espera, desde sempre!

PS - Se alguém ler esse texto meu e se interessar pelo tema, procurem "Complexo de Cinderela" da Colette Dowling e " A Síndrome de Peter Pan" de Dan Kiley - será interessante.