quinta-feira, 10 de outubro de 2019
Sabe a pedra filosofal?
Há alguns anos atrás eu participei de um Encontro em Belo Horizonte. Depois de dar minha aula numa noite, combinamos que na noite seguinte eu dividiria o tempo com um outro professor. Eu havia programado uma meditação. Acabou não dando certo, porque o professor expandiu muito o tempo dele, absurdamente muito, ficando reservado a mim um tempinho bem exíguo e todo mundo já estava bem cansado, inclusive eu...
Mas, mesmo sem graça e sem espaço como eu me encontrava, bem aturdida com o acontecimento, consegui contar a historinha que ilustraria o caminho da meditação, que conto agora aqui:
- Um mestre zen disse ao discípulo: encha seu copo de água e coloque bastante sal dentro. Agora beba a água.
O discípulo assim o fez, mas não conseguiu beber a água, de tal maneira o sal tomava conta da água e ficava praticamente insuportável beber.
Então, o mestre disse ao discípulo: agora vamos até o lago e jogue o copo com água salgada lá.
O discípulo assim o fez. E novamente o mestre falou: Agora beba um tanto de água desse lago .
O discípulo bebeu com facilidade. O sal havia se espalhado, a água parecia doce.
Não lembro mais o que o mestre falou, mas fica fácil imaginar: se você está com um problema praticamente insuportável, que lhe ocupa a mente e lhe tira o sono, se ficar com ele e lutar contra ele, tentando teimosamente resolve-lo custe o que custar, batendo nele e se debatendo com ele, você não vai conseguir muita coisa - vai sofrer, pirar, talvez, e se reduzir, se encolher, se fechar, ficando você pequenino e frágil e ele enorme, poderoso, invencível...Então, antes de tentar resolver o problema, experimente se ampliar, ficar mais vasto, mais aberto, amplie seus espaços internos, "abra espaços" na mente, no coração. Vai trabalhando, galgando e se ampliando, como diz Mira Mãe. Um passinho por vez. E, a partir desse trabalho interno, quando sentir os espaços mais ampliados internamente, coloque a questão preocupante e doída, abrace ela, diga " sim' a ela, se possível, cantarole uma canção, sente-se jeitosamente na lua crescente e fique balançando os pezinhos no ar, olhe aquela estrela no céu, até que você sinta ela dentro de você , clareando seu peito, aconchegue-se naquela rocha no mar de Itapoã e fique olhando aquelas ondas, fazendo amor com o mar, até que Iemanjá surja em seu esplendor e lhe abrace com seu manto azul de Nossa Senhora...( porque céu e mar são irmãos de sangue)!
O vento, a água, a terra, o fogo - seus irmãos - lhe acolhem com suas qualidades únicas , ajudando você a fazer seu caminho onde os pés pesam e o coração sangra. Fique firme, navegue em terra agreste. Suas lágrimas regam o chão seco e ajudam o sertão a virar mar.
Digo, no entanto, que esse não é um caminho fácil: você estará vis a vis com seu pequeno e obstrutivo ego, que não está interessado na sua abertura, muito pelo contrário. Ele lhe quer fechado, rendido ao sistema, preocupando-se com o capital, com o " crescimento econômico" e coisas que tais, inventando mais ardís e mais artifícios, preocupando-se com sua fachada e sua imagem.
Aí você já sabe que tem o recurso de se ampliar um pouco mais, dizendo à sua "vítima" interna: - agora não, agora não, vai ver se estou na esquina... até que um sorriso terno e matreiro alcance os cantos da sua boca, você lembra da Mafalda, do Armandinho, Gasparzinho, do Asterix , da barriga do Obelix, do "Deus te elimine"...e pode ser que uma gargalhada que você não sabe de onde veio - mas chegou, benvinda - inunde seus olhos, sua boca e garganta, seu peito que ardia...
Humor e amor! Que parceria nesses tempos bicudos!
Mira Mãe diz que o ego do homem se leva terrivelmente a sério, seus fracassos, suas vitórias...
Humor nele!
Amor nele!
A música de hoje?
A que me veio foi " Se eu quiser falar com Deus".
E também a Ciranda Indiana do Mawaca, em tempos em que Lia de Itamaracá está tão relembrada!
Cante com Gil e dance a Ciranda!
Tanta coisa boa, tanta ajuda, tanta alquimia...
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