sábado, 3 de setembro de 2022

Sobre pandemias de dentro e pandemias de fora

Fico sempre refletindo sobre os últimos anos,os últimos meses... Como estamos nós? O que mudou,o que mexeu,o que insiste em não se renovar,dentro e fora? Início de 2020 ,saio do cinema ,de Parasita,ganhador do Oscar,percebendo a força da semelhança com o momento,me perguntando:onde vai dar tudo isso? O que virá pra nos desalojar desse falso berço esplêndido? Um raio virá, do leste,do oeste,forçando-nos - a nós,humanos - a tomar outro rumo? Um vendaval? Um abraço gigante desse imenso mar? Um tremor inconformado da terra-mãe? No silêncio, como em Melancolía do Lars Von Trier,veio a pandemia, veio o vírus, junto com tudo isso. Ela já estava sendo gestada e ignorada há muito tempo por nós e irrompeu com a força de um gladiador que se lança sobre sua presa,enquanto todos dormiam no acampamento... Gritos,súplicas,desmaios, estupefações, mortes... O mundo inteiro dormia. O mundo começou a balançar. O mundo começou,talvez, a acordar e tirar a remela dos olhos? Claro que com uma incrível piora de tudo, o aumento dos horrores, da fome, das guerras, das falsidades de todo tipo. A tal piora que antecede mudanças importantes. A homeopatia sabe bem disso com os seus "agravamentos", quando o remédio dá certo. Tudo acontecendo à luz do Sol, tudo ficando claro, porque a peneira que tapava o sol, rasgou-se toda, agora tudo está sendo revelado, no passo a passo do dia a dia. 2021 ,2022... Somos nós, alquimistas,que somos chamados a esse despertar, que vamos transformando nosso barro em ouro. Melhor dizendo , com Sri Aurobindo: somos um ferro sendo batido e rebatido pelo grande Ferreiro até aparecer o lingote de ouro puro,o lingote que cada um de nós é, verdadeiramente. Essa é nossa função, nossa tarefa nessa encarnação. E a coisa não acontece na maciota, a coisa mexe nas nossas escuridões, nos nossos esconderijos sombrios, nas nossas imagens laboriosamente construídas com cal... No nosso ego! Vemos a passagem estreita, mas a senha será "transforme seu ego ou não passará". Ego muito grande, passagem muito estreita...fica entalado. Cada um de nós precisa perceber como esse processo acontece em si, porque pra cada um há uma maneira que só funciona pra si mesmo, com os temas da sua própria vida. É difícil e é maravilhosamente abençoado! No ashram onde vivia Mira Mãe, perguntaram a ela " porque o Divino não abolia logo o ego, já que ele é o grande obstrutor" ? Ela responde, rindo : Ah , esse é o nosso trabalho humano. Nunca a noite é tão escura como logo antes da aurora, diz o querido Sri. Seguimos trabalhando, tecendo juntos, com nossas escolhas , essa aurora que se anuncia , em meio a toda escuridão.

Reedição

Esse texto da Coleção Verde e Rosa e a Cruz foi escrito em 2013, há quase 10 anos atrás . Encontrei perdido por aqui pelos rascunhos do meu blog e resolvi editar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Coleção verde e rosa e a CRUZ .


Quando meninota e mocinha, lia a coleção verde e a coleção rosa. Adorava ler, vivia lendo, Lobato, Guerra e Paz, livros da biblioteca da minha casa, de pais que gostavam muito dos livros. Não conseguí ler a paixão do meu pai, Euclides da Cunha. Ele tinha tudo dele em casa e os livros eram todos grifados, estudados.
" O sertanejo é antes de tudo um forte" ficou, pra mim, nas primeiras linhas e na força dessa expressão!
Das coleções que mencionei , tinha um livro , " O Rosário", que eu lia e chorava, Nunca entendí muito porquê!Era um amor impossível de Jane e Garth Dalmain, os protagonistas da história. Ele, um pintor, ela, uma moça que se achava feia. E, por causa disso, não acreditou no amor dele, por não se achar merecedora, já que se sentia feia.  Lembro de um trecho marcante, quando ela o deixou:" com os lábios pálidos, Garth beijou a mão de Jane, dizendo baixinho aceito a cruz!" No fim eles se reencontram, ele cego, e terminam vivendo seu grande amor!
Essa história de "aceito a cruz" ficou em mim. Volta e meia, essa lembrança me vinha.
Hoje ela veio novamente e fiquei matutando o porquê dessas palavras me tocarem tanto, até hoje.
O Guia do Pathwork fala da "crucificação do ego" - será isso?
E a lembrança do Cristo na cruz..." Pai, porque me abandonastes?"
E a aceitação do seu calvário, de todo sofrimento, de toda incompreensão e injúria dos homens que ele veio salvar: nós!
Aquela historinha sobre a cruz: " Diz-se que um homem estava carregando sua cruz e, achando ela pesada demais, resolveu passar numa marcenaria e cortar um pouco das pontas. Isso feito, prosseguiu viagem, bem mais leve. Logo adiante, havia um enorme precipício, o chão se abria - e ele viu as outras pessoas colocando cada um sua própria cruz para servir de ponte sobre o vazio, de passagem para o outro lado. Ele tentou, mas faltavam exatamente os pedaços que havia mandado cortar. Por isso não conseguiu passar."

Talvez, hoje, eu esteja tentando achar um marceneiro pra cortar as pontas da minha. 
Tenho a impressão que não vou achar, e ainda bem, porque vou precisar dela inteira pra transformá-la em ponte.
Tudo acontece sempre para o melhor, mesmo que nossa limitada visão não nos ajude a compreender no momento.
Só  me resta ir  para o meu centro, respirando, pedindo ajuda, indo para o coração, sintonizando com ele...
Lembrei da cruz da Nina Simone, do mestre Beethoven, de Bach, de tantos outros tão imensamente maiores que eu que aceitaram as próprias...
OK, Eloisa, vamos ouvir a Paixão Segundo são Matheus hoje!
Somente a música pode ajudar-nos a fazer essa passagem para a aceitação!