domingo, 29 de junho de 2014

Complementações ao sonho...


Reli agora esse texto do Sonho e preciso complementar:
Digo lá que "se o sonho acabou, é porque não era real".
Melhor dizendo, " se esse sonho acabou é porque não faz mais sentido nesse novo trecho do caminho."
O que serviu durante um tempo, e talvez tenha sido até real durante aquele tempo, vai se renovando, vai sendo relido, vai sendo transformado...e, então, já não é mais real para esse outro momento.
Parece que é assim que vamos caminhando, com flexibilidade, em cima do fio que balança, percebendo sem rigidez,sensivelmente, o próximo balanço do fio, que vai nos levando a novos olhares, novas visões, novos momentos...
Sri Aurobindo diz que tudo o que serviu durante um período, foi para "aquele" período, não quer dizer que vá servir para a vida toda sempre do mesmo jeito. Isso é rigidez e perdemos o sensível e delicado balance da vida. Mesmo os relacionamentos de amores e amigos podem durar uma vida toda, mas apenas se forem relidos, revisados, transformados todo o tempo, incansavelmente...Se não, perdem a vida, a força, a luz...Aí fica a casca da coisa, sem a coisa.
E que linda fica a coisa revisada, re-olhada , re-tudo...
So, então, entonces...Vamos revisando tudo, relendo tudo, amorosa e incansavelmente.
Tudo isso também nos faz entrar em contato com a dor.
Entramos em contato, sentimos e, ao sentir, ela se transforma e pode se abrir em flor...ou não...

Vamos caminhando, "seres despertos de olhar profundo", vamos caminhando ...
Porque " a vida, a vida, a vida...a vida só é possível reinventada" ( Cecília Meireles)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

As Cenas Infantis de Schumann e o Sonho meu, de Bethânia

Bethânia canta: sonho meu, sonho meu, vai buscar quem mora longe, sonho meu...

Sempre fiquei encafifada com esse negócio de sonho! Um termo que não costumo usar, a não ser no que se trata do sonho, sonho mesmo, aquele que a gente tem quando dorme, e que é ótimo ter. O universo onírico faz uma ponte bacana com a vida acordada da gente, 'as vezes as fichas caem, compreendemos coisas da nossa vida, como também podemos ter "aquele" sonho clarificador, mensagem do inconsciente, mensagem do ser interno...Mestre Jung e os junguianos que o digam!!
Agora - ao sonho que se sonha acordado, não sou muito chegada. Tem alguma coisa nisso que me afasta, algum relacionamento íntimo com fantasia, com viagens imaginárias, com idealizações, pretensões, escapismos...
 Principalmente, uma ligação íntima com ilusão ( e aí compreendemos bem o conceito de maya, para os indianos).
Civilizações foram baseadas nisso, nesse conceito da vida ser "maya", ilusão.
A gente até fala: "fiquei tão desiludida", como se isso fosse uma coisa bem ruim. Mas, então, ilusão é coisa boa? Ficar iludido , viver iludido é coisa bacana?
  Como se a realidade fosse alguma coisa ruim, feia, e precisássemos "contrabalançar" com  sonho. Mesmo o "sonho de padaria" é enganador, é gostosinho, mas inundado de fritura daqueles óleos nem um pouco virgens, já pra lá de rodados.E aí o nosso estômago, que trabalha no tempo presente, refuga um bocado e quer sair do sonho e cair na real. Uma hora o tempo presente vence, ainda bem! Mas, até isso acontecer, vai doer, meu irmão, o estômago vai reclamar com o sintoma da dor. Hora do chá quentinho, do agrado nele ( no plexo solar, por favor, não com a mão lá dentro...)Carinhos condizentes com a "perda da ilusão"!
Eu conheço esse caminho do estômago, por isso lhes falo agora! A G O R A !
Acho que temos muita sorte em vivermos num tempo em que o sentido da realidade começa a ser ansiado , buscado, trabalhado com afinco. Algo como " a esperança é agora", não está numa vida futura ou na aquisição disto ou daquilo.
Huxley começa seu inesquecível romance " A Ilha" com essas palavras  :"Aqui e Agora " , "Atenção" , "Atenção para a Atenção".
Quantos inspiradores mestres a nos apontar isso!
Eckhart Tolle está aí nos lembrando que é impossível acessar uma nova consciência sem "estar no momento presente". Sem estar em si mesmo. Aceitando o que está no presente, na realidade do momento. 
Palavra mágica, "aceitação"! Mas o sonho da criança continua buscando os alakazim-alakazão, os shazam, os pirlimpimpim...
A diferença é que a primeira - aceitação - é trabalhada dentro da gente e as seguintes, as da magia, veem de fora, acontecem " de grátis"...rsrs...( Confesso meu encantamento com o pirlimpimpim, minha criança sempre foi encantada com  o sítio do picapau amarelo...)
Sri Aurobindo já nos disse, em começos do sec XX, que "a vida toda é yoga". Isso foi um boom inovador, mais ou menos como deve ter sido a passagem dos macacos , que recebiam a vibração vital, para os aprendizes de humanos,que começaram a  receber as primeiras vibrações mentais. Ou seja, cada segundo vivido na vida, em qualquer situação - boa, ruim, péssima, maravilhosa -  é o que tem que ser, o que está aí como material incandescente para nossa aceitação e transformação.Para nosso aprendizado. Formidável e terrível isso, porque , 'as vezes, o que mais queremos é "sair daqui e ir para ali" - lá deve estar melhor, por um motivo ou por outro, principalmente porque não vai ter aqueles elementos da minha vida que são difíceis de encarar, pedras nos sapatos, ossos duros de roer...
Ainda não realizávamos talvez ,que, quando "tem uma pedra no meio do carinho", podemos subir na pedra divisora dos terrenos, conciliando o que antes poderia ser classificado como "oposição". Viva o facebook, onde circulou esse post tão inspirado e inspirador!E viva a quântica, que nos mostrou a interligação de tudo, de que não há opositores!
Se isso pode funcionar com as pequenas oposições no nosso cotidiano, pode funcionar também com as grandes questões de vida/morte, bom/ruim, realidade/sonho,amor/ódio...
Se formos lembrar do pessoal mais antigo ( e isso nem sempre tem a ver com idades...), havia uma tendência grande a ter uma vida rica de sonhos acordados. Lembro da minha mãe, Maria Pureza, costurando e cantarolando as músicas de Francisco Alves e outros dessa época, onde as deusas da minha rua  viviam em cada esquina , pisando nos astros, distraídas...Dava pra ver o olhar meio perdido, dava até pra "ver" as formações que povoavam o imaginário dela, ela própria, uma deusa distraída...
Nesse contexto que falamos, o sonho entrava como uma espécie de "antídoto" ao momento presente...
Bem, se o sonho acabou, é porque não era real.

Com todo esse bolodoro escrito, quero só dizer que  parece que o sonho é da criança em nós e o estado acordado é próprio do nosso adulto. Acordado no sentido de "desperto" ( porque podemos não estar a dormir , mas estarmos profundamente adormecidos...)
 Fazendo um link com o começo desse texto, a historinha foi assim:
- Estava eu há pouco lá em cima, estudando as Cenas Infantis de Schumann, que vou tocar em outubro.
São 13 pequenas e notáveis peças , onde ele fala com  som sobre o universo da criança.E passando por todos aqueles títulos que ele dá, ao iniciar Traumerai, onde a criança sonha, senti o click que me deu vontade de escrever aqui:
O SONHO É DA CRIANÇA, nossa linda criança, a criança de todos nós...

E lembrei agora de Drummond, quando ele diz que "prepara uma canção que faça adormecer as crianças e acordar os homens".
Sabido Drummond!
A realidade É o milagre, o próprio, vivemos dentro do milagre de cada momento, esse caleidoscópio onde tudo está sempre em mutação...
Talvez quando o adulto fala "sonho", ele está querendo dizer " milagre", talvez...

Só pra confirmar isso, ouçam as Cenas Infantis de Schumann, de preferência tocadas pela Maria João Pires.
E comprem um caleidoscópio - eu já tenho o meu...