Nesse blog, pretendo escrever sobre música e auto-conhecimento, poesia, reflexões e partilhar textos queridos de Sri Aurobindo, da Mãe, de Rolf Gelewski, de Eckhart Tolle, de John Pierrakos, do Guia do Pathwork, de Satprem e outros faróis indicadores de caminho...
E vou partilhando sobre mim e sobre meu próprio processo de auto-descoberta, meu caminho se fazendo sob meus passos, as dúvidas, inquietações, sentimentos, pensamentos, dores, amores e flores...
Há muito tempo atrás, uns 24 anos mais ou menos, (re) encontrei Rolf, dançarino, pensador, que trouxe para o Brasil a Luz de Sri Aurobindo e da Mãe. Na verdade, fui aluna dele quando fazia música na Universidade Federal da Bahia, fiz uma matéria de Dança com ele. Naquele tempo, a UFBA era um pólo incrível de descobertas, uma fonte de riquezas, integrando as culturas erudita, popular, folclórica, inovando todo um cenário de arte via marca do Koellreutter, "o cara"! Tive muita sorte em estudar e participar desse momento arrojado, onde a percepção da música, das artes plásticas, da dança, do teatro e da poesia era integrada à vida, ao que ocorria de mágico e místico na cidade do Salvador, na Bahia, a amada terra baiana... Corriam os anos 60 , com toda complexidade e mudanças dessa época. Eu morava bem em frente à Reitoria da UFBA, no Vale do Canela, pertinho do Campo Grande, do Teatro Castro Alves, do Instituto Alemão (esqueci o nome agora), onde tudo acontecia. Antes de entrar na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade, estudava no Colégio de Aplicação da UFBA, uma das melhores vivências da minha adolescência, se não a melhor. Um dos meus programas favoritos - além de ir às passeatas estudantis escondida da família - era assistir às apresentações do Grupo de Dança Contemporânea, onde Rolf era coreógrafo e diretor. Adolescente ainda, ficava babando, vendo e ouvindo tudo aquilo... A coreografia de Zumbi, com música do Edu Lobo, ainda canta em mim... "É Zambi no açoite, ê, ê, é Zambi... Chega de sofrer, Zambi gritou...". E estudava meu piano, cantava no Coral (Uau! Danças Polovtzianas, Carmina Burana, a Nona e tantas outras...), ia a todos os concertos várias vezes por semana (desde os 10 anos...), dançava, sonhava, chorava, sofria, me entusiasmava, me encantava, me desencantava, ficava com o outro e ficava muito sozinha, como qualquer adolescente.
Era arte e música na veia, o tempo todo!! Paradoxalmente a todo esse movimento, havia uma enorme solidão interna, como filha única, um enorme desencaixe da vida, um não-se-saber-dentro-da-vida, uma constante tentativa de entrar e estar na vida. Escrevia poesias, lia muito e sempre (fiz Letras, mas não terminei, optei pela Música, na época), estudava muito, ouvia música, tocava muito piano, tomava banho de mar em Itapoã, amava o mar. A vida interior era desconhecida para mim, mal sabia que sempre vivi nela, não tinha a menor idéia disso, a vida era toda "pra fora", buscando as coisas "de fora" sem nunca me sentir preenchida. Namorei, casei, tive filhos queridos,descasei, casei de novo, tive filha querida... E a vida seguia seus rumos. Uma busca interna continuava se processando, sem voz e sem nenhum conhecimento, ignorante de si mesma, muito sofrida. O reencontro com Rolf em 86 reacendeu e começou a direcionar essa busca ignorante de si mesma: encontrei Sri Aurobindo, que já existia como nome para mim desde que Rolf fundou a Casa Sri Aurobindo em 1973, ele próprio me mandava Anandas, a revista da Casa, mas eu ainda dormia...
E, de lá para cá, as pedrinhas no caminho foram se colocando e se encaixando, devagarinho, com acertos e desacertos, com encontros e desencontros, em meio a alegrias e tristezas, dores e amores, mas tudo seguia para onde tinha que seguir, para a descoberta do meu mundo interno. E fui entendendo que "a vida toda é Yoga", tudo o que pensamos, sentimos, fazemos é o nosso laboratório pessoal de transformação. "O homem é o seu próprio laboratório pensante e vivente", diz Sri. E o Guia diz que "somos inteiramente responsáveis pelo que criamos na nossa vida". E... vamos lá, caminhando, exercitando a confiança no Universo, aprendendo a soltar o controle, conhecendo as próprias dificuldades e facilidades, estando mais presentes na própria vida, conhecendo nossa criança interna e suas feridas, conhecendo o próprio potencial para a alegria,se percebendo e se trabalhando no próprio corpo - nosso grande aliado -, aceitando, curando, transformando... Vamos lá...
E isso foi o começo (claro que eu não sabia, só soube há pouco tempo) do processo terapêutico PPC: Processo Pessoal de Cura.
Tudo vai se integrando na vida...