sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Parece que não tem nada a ver com a eleição do momento e com a minha escolha da Dilma...mas tem!


Escrever, pra mim, é me compreender melhor. Os pensamentos, os sentimentos, as ideias em formação etc...vão clareando, vão tendo contornos mais nítidos. E se vejo as minhas reais motivações, se não perco contato com isso, aí as coisas vão caminhando juntas. Ou seja - se estiver querendo convencer, driblar,  mentir, criar historinhas jeitosas e falsas, melhor não escrever. Não sou jornalista, não ganho nada com isso, não quero convencer ninguém, tirar vantagem. 
Sempre escrevi, desde meninota, passando dos rabiscos 'as poesias adolescentes, nos registros dos meus diários. Tive muitos diários e registrava tudo, meus sonhos e expectativas juvenis, minhas paixões ( muitas e frequentes!), minhas dores e desapontamentos...
Aí fui fazer Letras, para escrever mais. Além das Línguas, interessava-me pela Literatura, Teoria da Literatura, Criação Literária. Não cheguei a terminar o curso, precisei optar entre Letras e Música, já que fazia ambas na UFBA, optei pela Música, que concluí.
Mas as 2 tendências sempre seguiram pari passu, ao longo da vida.
Outro dia, num ensaio do Madrigal, falei sobre a música "Roda" de Gil, que estamos cantando com belo arranjo de um colega - e disse que estava presente no show de despedida de Gil, "Inventário", no Teatro Vila Velha, na Salvador dos anos 60. Gil estava vindo trabalhar na Gessy Lever em SP e fez esse show de despedida, onde "Roda"tinha acabado de sair do forno, com seu parceiro João Augusto, então diretor do Vila, segurando a letra pra ele! Quantas histórias da época, como essa!
Seria quase impossível relatar as ricas vivências naquela Salvador dos anos 60, na música, dança, teatro, literatura, pintura ( Koellreutter, Rolf Gelewski, Widmer, Lindembergue, Jamary, Caetano, Possi, Gil,Gal, Tonzé, e tantos outros), tudo junto e misturado com a cultura afro-baiana. Estrangeiros- especialmente alemães- e nativos compartilhando e trocando suas informações! Tive muita sorte! Mais do que a experiência universitária , e ainda anterior a isso ( Colégio Central da Bahia, Colégio de Aplicação), foi a riqueza de experiências e vivências que ampliaram nossa visão para sempre, independentemente do curso que fazíamos.Claro que , cada um de nós com suas possibilidades próprias de aproveitamento, de fazer e refazer suas sínteses.Líamos muito, íamos a concertos 3,4 vezes por semana, a exposições de arte no Brasil-Alemanha, o ICBA...
Se alguém ler isso aqui e se interessar, procure material sobre o ambiente cultural dos anos sessenta de Salvador, será interessante conhecer!
Falo um pouco sobre isso no primeiro texto que escrevi nesse blog, anos atrás.
Bom, e também tem a política da época!Tudo fervilhava política, pai socialista, muitos da família idem,Colégio Central com a peça proibida do Sarno, toda a movimentação do Mosteiro de São Bento - com  os avançadíssimos Abades d.Timotheo e d. Gerônimo apoiando o movimento estudantil ,as correrias da polícia, as reuniões escondidas, os frissons e os medos. Um dia, ainda no Central , um amigo que tinha sido interrogado pelo DOPS me disse que havia visto minha foto lá e que achava que iriam me chamar pra depor. Expectativas, medos e um certo "orgulho"!! Mas que nada, eu era apenas um mocinha quietinha que não chamava a atenção, porque só fazia número...
Depois, no colegial do Aplicação, todos ( eu dise, TODOS) os professores socialistas.
After, primeiro ano de Letras, pleno 1969, tudo continuava fervendo.
Essas experiências de vida não troco por nada!!
E agora, 2014, estamos nessa  "experiência política" tão marcante. 
Só posso falar a partir de mim, do que sou, do que percebo.
Outro dia, numa partilha no Face, uma pessoa me convidou a "ir tocar meu piano", querendo dizer com isso "vá falar de coisas que você entende", ou '"vá fazer música pra sair dessas histórias complexas, onde tem tanta baixaria". Isso porque estou bem envolvida nesse momento que estamos vivendo juntos, com essa eleição presidencial.
Acredito que a intenção da pessoa era boa, mas bem parcial.
Provavelmente acha que "espiritualidade e política" não combinam.
Pra mim, nesse momento, meu ser espiritual se expressa tomando uma posição clara quanto ao cenário que estamos vivendo. Espiritualidade não é uma coisa vazia, que fica pairando" lá em cima", envolta em delicadas nuvenzinhas róseas e doiradas...Em momentos como esse, participamos, nos posicionamos, nos engajamos. Mahabharata em ação! A vida é uma coisa só, nada é desvinculado, quando tentamos tirar uma parte do todo, o todo empobrece.
Claro que o" ideal" seria já estar tudo integrado, toda a nossa personalidade, todas as divisões já unidas,todas as obscuridades trazidas 'a luz, os partidos políticos, os países amigos, sem guerras, tudo perfeitinho, sem miséria, sem fome, sem tragédias  na natureza, os casais amantes e sinceramente apaixonados, os amigos sinceros, sem sentimentos negativos,toda nossa obscuridade revelada e já transformada em luz...Ou seja, tudo resolvido!!
Mas não é assim - ainda! Não sou católica, mas li algo do Papa muito verdadeiro, ele diz" Estamos na Terceira Guerra Mundial". Me parece que todas as religiões , todas os ideais, têm algo a destacar, um ponto de luz da verdade. A confusão mundial está formada e nosso Brasil é uma parte nesse todo.
Bom, se eu, enquanto pessoa, sou um ser ainda dividido ,em formação, que procura se conhecer, se desenvolver, se trabalhar, evoluir, ou seja " sou um ser em construção", como vou querer que a coisa aqui fora, externamente, seja clara, limpa, perfeita?
Isso seria uma absoluta infantilidade!
No jogo de projeções, projetamos nossa sombra " no outro" - seja "o outro" quem for .
Mas se eu for trabalhando minha própria sombra, vou me libertando pouco a pouco dessas projeções tão infantis.
( Atenção, crianças, não estou dizendo que vocês são infantis, infantil é o adulto que não amadureceu!)
Projetamos também nosso " eu bacana" no outro ( claro que em outro-outro...rs) e ele nos aparece como o grande salvador, o eleito maravilhoso, aquele que vai nos salvar de nós mesmos!
A notícia é que ninguém virá nos salvar, isso é idiotice mesmo, nós é que precisamos fazer nossa trabalho de transformação pessoal, cada um o seu. O clareamento de cada um de nós reverte em mais clareamento do todo.

No "real" tudo ainda está dividido, tudo ainda "por fazer", tudo sendo encaminhado.
E é nesse lugar que nosso trabalho de auto-conhecimento, que é eminentemente espiritual, se liga ao clareamento aqui fora do contexto político.
No ambiente das velhas raposas, nada é novo. A voz nova ainda não tem espaço suficiente para manifestação. Não há , ainda, chão construído para essa manifestação do novo na política.
Mas a vida anda pra frente, a evolução caminha para onde tem que ir, retrocessos não podem ter lugar.
Estamos vigilantes, estamos caminhando, vamos seguindo a canção, mesmo que ainda não seja o momento.
Mas vamos construindo, sujando as mãos, sem lavá-las como Pilatos.
Eu , reafirmo, não tenho partido - embora seja um ser político, uma coisa não tem nada a ver com a outra - não tenho filiações partidárias, nem nada disso.
Com 12 anos torci pelo Lott ( o opositor era Jânio), com 40 torci e votei no Lula ( o opositor era Collor), hoje voto conscientemente em Dilma.
Continuo e continuarei partilhando tudo o que sentir interessante no Face, um grande instrumento de conexões no momento.
Se prepararmos bem esse momento, outros chegarão, sempre mais verdadeiros, com certeza!
Vamos lá, em preparação, construindo nossa travessia!
Boa tarde!