sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Parece que não tem nada a ver com a eleição do momento e com a minha escolha da Dilma...mas tem!


Escrever, pra mim, é me compreender melhor. Os pensamentos, os sentimentos, as ideias em formação etc...vão clareando, vão tendo contornos mais nítidos. E se vejo as minhas reais motivações, se não perco contato com isso, aí as coisas vão caminhando juntas. Ou seja - se estiver querendo convencer, driblar,  mentir, criar historinhas jeitosas e falsas, melhor não escrever. Não sou jornalista, não ganho nada com isso, não quero convencer ninguém, tirar vantagem. 
Sempre escrevi, desde meninota, passando dos rabiscos 'as poesias adolescentes, nos registros dos meus diários. Tive muitos diários e registrava tudo, meus sonhos e expectativas juvenis, minhas paixões ( muitas e frequentes!), minhas dores e desapontamentos...
Aí fui fazer Letras, para escrever mais. Além das Línguas, interessava-me pela Literatura, Teoria da Literatura, Criação Literária. Não cheguei a terminar o curso, precisei optar entre Letras e Música, já que fazia ambas na UFBA, optei pela Música, que concluí.
Mas as 2 tendências sempre seguiram pari passu, ao longo da vida.
Outro dia, num ensaio do Madrigal, falei sobre a música "Roda" de Gil, que estamos cantando com belo arranjo de um colega - e disse que estava presente no show de despedida de Gil, "Inventário", no Teatro Vila Velha, na Salvador dos anos 60. Gil estava vindo trabalhar na Gessy Lever em SP e fez esse show de despedida, onde "Roda"tinha acabado de sair do forno, com seu parceiro João Augusto, então diretor do Vila, segurando a letra pra ele! Quantas histórias da época, como essa!
Seria quase impossível relatar as ricas vivências naquela Salvador dos anos 60, na música, dança, teatro, literatura, pintura ( Koellreutter, Rolf Gelewski, Widmer, Lindembergue, Jamary, Caetano, Possi, Gil,Gal, Tonzé, e tantos outros), tudo junto e misturado com a cultura afro-baiana. Estrangeiros- especialmente alemães- e nativos compartilhando e trocando suas informações! Tive muita sorte! Mais do que a experiência universitária , e ainda anterior a isso ( Colégio Central da Bahia, Colégio de Aplicação), foi a riqueza de experiências e vivências que ampliaram nossa visão para sempre, independentemente do curso que fazíamos.Claro que , cada um de nós com suas possibilidades próprias de aproveitamento, de fazer e refazer suas sínteses.Líamos muito, íamos a concertos 3,4 vezes por semana, a exposições de arte no Brasil-Alemanha, o ICBA...
Se alguém ler isso aqui e se interessar, procure material sobre o ambiente cultural dos anos sessenta de Salvador, será interessante conhecer!
Falo um pouco sobre isso no primeiro texto que escrevi nesse blog, anos atrás.
Bom, e também tem a política da época!Tudo fervilhava política, pai socialista, muitos da família idem,Colégio Central com a peça proibida do Sarno, toda a movimentação do Mosteiro de São Bento - com  os avançadíssimos Abades d.Timotheo e d. Gerônimo apoiando o movimento estudantil ,as correrias da polícia, as reuniões escondidas, os frissons e os medos. Um dia, ainda no Central , um amigo que tinha sido interrogado pelo DOPS me disse que havia visto minha foto lá e que achava que iriam me chamar pra depor. Expectativas, medos e um certo "orgulho"!! Mas que nada, eu era apenas um mocinha quietinha que não chamava a atenção, porque só fazia número...
Depois, no colegial do Aplicação, todos ( eu dise, TODOS) os professores socialistas.
After, primeiro ano de Letras, pleno 1969, tudo continuava fervendo.
Essas experiências de vida não troco por nada!!
E agora, 2014, estamos nessa  "experiência política" tão marcante. 
Só posso falar a partir de mim, do que sou, do que percebo.
Outro dia, numa partilha no Face, uma pessoa me convidou a "ir tocar meu piano", querendo dizer com isso "vá falar de coisas que você entende", ou '"vá fazer música pra sair dessas histórias complexas, onde tem tanta baixaria". Isso porque estou bem envolvida nesse momento que estamos vivendo juntos, com essa eleição presidencial.
Acredito que a intenção da pessoa era boa, mas bem parcial.
Provavelmente acha que "espiritualidade e política" não combinam.
Pra mim, nesse momento, meu ser espiritual se expressa tomando uma posição clara quanto ao cenário que estamos vivendo. Espiritualidade não é uma coisa vazia, que fica pairando" lá em cima", envolta em delicadas nuvenzinhas róseas e doiradas...Em momentos como esse, participamos, nos posicionamos, nos engajamos. Mahabharata em ação! A vida é uma coisa só, nada é desvinculado, quando tentamos tirar uma parte do todo, o todo empobrece.
Claro que o" ideal" seria já estar tudo integrado, toda a nossa personalidade, todas as divisões já unidas,todas as obscuridades trazidas 'a luz, os partidos políticos, os países amigos, sem guerras, tudo perfeitinho, sem miséria, sem fome, sem tragédias  na natureza, os casais amantes e sinceramente apaixonados, os amigos sinceros, sem sentimentos negativos,toda nossa obscuridade revelada e já transformada em luz...Ou seja, tudo resolvido!!
Mas não é assim - ainda! Não sou católica, mas li algo do Papa muito verdadeiro, ele diz" Estamos na Terceira Guerra Mundial". Me parece que todas as religiões , todas os ideais, têm algo a destacar, um ponto de luz da verdade. A confusão mundial está formada e nosso Brasil é uma parte nesse todo.
Bom, se eu, enquanto pessoa, sou um ser ainda dividido ,em formação, que procura se conhecer, se desenvolver, se trabalhar, evoluir, ou seja " sou um ser em construção", como vou querer que a coisa aqui fora, externamente, seja clara, limpa, perfeita?
Isso seria uma absoluta infantilidade!
No jogo de projeções, projetamos nossa sombra " no outro" - seja "o outro" quem for .
Mas se eu for trabalhando minha própria sombra, vou me libertando pouco a pouco dessas projeções tão infantis.
( Atenção, crianças, não estou dizendo que vocês são infantis, infantil é o adulto que não amadureceu!)
Projetamos também nosso " eu bacana" no outro ( claro que em outro-outro...rs) e ele nos aparece como o grande salvador, o eleito maravilhoso, aquele que vai nos salvar de nós mesmos!
A notícia é que ninguém virá nos salvar, isso é idiotice mesmo, nós é que precisamos fazer nossa trabalho de transformação pessoal, cada um o seu. O clareamento de cada um de nós reverte em mais clareamento do todo.

No "real" tudo ainda está dividido, tudo ainda "por fazer", tudo sendo encaminhado.
E é nesse lugar que nosso trabalho de auto-conhecimento, que é eminentemente espiritual, se liga ao clareamento aqui fora do contexto político.
No ambiente das velhas raposas, nada é novo. A voz nova ainda não tem espaço suficiente para manifestação. Não há , ainda, chão construído para essa manifestação do novo na política.
Mas a vida anda pra frente, a evolução caminha para onde tem que ir, retrocessos não podem ter lugar.
Estamos vigilantes, estamos caminhando, vamos seguindo a canção, mesmo que ainda não seja o momento.
Mas vamos construindo, sujando as mãos, sem lavá-las como Pilatos.
Eu , reafirmo, não tenho partido - embora seja um ser político, uma coisa não tem nada a ver com a outra - não tenho filiações partidárias, nem nada disso.
Com 12 anos torci pelo Lott ( o opositor era Jânio), com 40 torci e votei no Lula ( o opositor era Collor), hoje voto conscientemente em Dilma.
Continuo e continuarei partilhando tudo o que sentir interessante no Face, um grande instrumento de conexões no momento.
Se prepararmos bem esse momento, outros chegarão, sempre mais verdadeiros, com certeza!
Vamos lá, em preparação, construindo nossa travessia!
Boa tarde!



domingo, 7 de setembro de 2014

Integrações do que sou, do que faço, do que sei, do que amo, do que...

Na equipe da Thérèse Bertherat - não sei se ainda agora, mas ao tempo em que ela escreveu os primeiros livros - tem jovens profissionais, que são escolhidos "por serem apaixonados pelo trabalho que sabem fazer e por terem consciência de suas possibilidades ainda inexploradas"!Ou seja, não exatamente pelos seus currículos - que, óbvio, precisam ser bons e competentes - mas pela sua capacidade de abertura, pela sua paixão viva,pela sua entrega, nada morninha!
Na equipe ela tem profissional de shiatsu, astrólogo, aparentemente nada a ver com o tema da antiginástica.
Fico pensando como a especialização do nosso mundo nos apequenou e emburreceu.
Conheci um músico e terapeuta que dizia aos seus discípulos "vão ler sobre hortas, fazer hortas, plantar flores, fazer cerâmica etc..."
Maria João Pires, essa linda pianista sempre misturou a música nas quintas que tinha em Portugal, onde cuidava da terra etc...
Schumann era compositor, escritor, editor de revistas...
Hipócrates, Newton, Kepler, da Vinci eram multi-profissionais! Sim, e astrólogos também, todos eles!
Se vamos em busca de uma integração maior - em nós mesmos e com tudo o mais - a especialização estrita é um entrave, mais fechando nossa cabeça do que abrindo.
Talvez não seja assim no caso do médico - cirurgião, por exemplo, esse precisa ser um super especialista!

Porque, qdo nos expressamos - tocando, por exemplo - o que vai tocar o outro é o nosso mundo interior, através dos sons que produzimos!
É o que está "por detrás" que vem 'a tona e se reflete.
Como diz Klee, " a arte torna visível".

Essas divisões aconteceram há muito tempo atrás, quando arte, ciência e religião se separaram e continuamos mantendo.
Acredito que também é um "medo" do famoso "qualquer coisa", do " eu acho" sem embasamento - e ficamos assustados com isso, com esse "achismo" de meia tigela.

 Sejamos generalistas com uma especialidade bem definida, abertos pra vida, para o "novo", dentro desse famoso "novo paradigma" que tenta abrir espaços nesse fechamento todo, a duras penas.
Se formos realmente sérios no que fazemos, essa percepção integrativa só pode nos enriquecer, enriquecer nossa weltanchauung ( visão de mundo).
E aí me lembro de uma velha amiga, que não via há séculos, e que me conheceu sempre pianista e profa de piano.Sabedora das minhas outras formações, mais recentes, como terapeuta, foi me apresentar a outra pessoa e embatucou: "Eloisa é...é..." Fui em seu auxílio " Terapeuta e musicista".

Pode, não é?...rs

PS - Relendo Bertherat, essas reflexões foram vindo junto, na rabiça do arado, como diz o bom gaúcho...

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Nossa Sede de Infinito

Hoje, agora, depois de atender clientes , colher abóboras,  couves e alfaces no meu terreno, fazer meu almoço preparado com essa colheita, ouvir música enquanto essa preparação acontecia, comendo meu almoço tardiamente e me preparando para estudar meu piano logo mais,percebo que, o que mais nos interessa, embora  nem saibamos conscientemente disso, é a nossa sede de infinito!!!Que também não sabemos conscientemente o que é!!Sri Aurobindo nos disse isso, "  temos sede de infinito" e essas palavras,  que ouço há mais de 30 anos, entraram em algum lugar sagrado em mim agora , e percebo a força , a luz e o barro delas, a sua ação na vida, sua presença muito objetiva, sua substância.
Por isso, fora do "programa", corri aqui para escrever.
Na verdade, são coisas, aparentemente, bem "banais"!
Nada a ver com aquelas mirabolantes coisas do " fracasso do grande mental", diria Satprem. São coisas do  "funcionamento ao  nível da terra". Ou seja, terra e infinito são irmãos, estão um ao lado do outro, um dentro do outro. Não me interessam as premissas filosóficas. Interessa-me a Vida em todas as suas manifestações. E, claro, que o filosófico está contido nela, sem premissas!
Atendendo clientes, dando aulas,conversando com as pessoas queridas de maneira geral, amigos, amores, filhos...vejo, sinto essa sede, esse anseio, esse ser-alma que tenta, que ocupa sua história, que está crescendo e amadurecendo ( e isso é alegria e dor, ao mesmo tempo), que pressente uma antena " lá" e outra "aqui", tentando equilibrar e integrar as duas, tentando se encontrar em sua vida, ser feliz. São pessoas intensas, verdadeiras, com uma aptidão para a alegria , para o encontro real.
Bom, voltando ao que me impulsionou a escrever agora - volto ao tema da natureza, dessa coisa maravilhosa se oferecendo a nós. Quando saí da minha sala de atendimentos, fui percorrer o terreno , coisa que sempre me dá muita alegria, e colher as coisas para o almoço - as ofertas. Com uma natureza dessas, sempre 'a disposição - apesar do homem-cego-surdo-mudo ( e isso não tem nada a ver com as faculdades e os sentidos perfeitos do homem), a presença do infinito está. Com a preparação de tudo isso, o infinito está. Com a música...Ah, com a música o infinito está o tempo todo, e ele nos perdoa sempre por nos esquecermos disso, achando, muitas vezes, que é para nossa valorização de ego!! Mas, em algum lugar interno, sabemos que é a nossa sede de infinito que se nutre. O resto ,é besteira e pretensão!
Tudo isso não se opõe aos acontecimentos da nossa vida cotidiana, são lados de uma mesma moeda, não existe essa coisa de "estar lá"( na vida intensa, verdadeira) e " estar aqui" ( na vida aparentemente corriqueira, nos trabalhos, nas pequenas e grandes chatices). Vamos resolvendo essa charada! Não é fácil, mas vamos tentando! Touching the moment with eternity...Vamos lá, querido Sri, vamos lá...

Trilha Sonora: - Neste percurso, ouvi Schumann - as Cenas Infantis; Ravi Shankar e Madeleine Peyroux.
 


domingo, 29 de junho de 2014

Complementações ao sonho...


Reli agora esse texto do Sonho e preciso complementar:
Digo lá que "se o sonho acabou, é porque não era real".
Melhor dizendo, " se esse sonho acabou é porque não faz mais sentido nesse novo trecho do caminho."
O que serviu durante um tempo, e talvez tenha sido até real durante aquele tempo, vai se renovando, vai sendo relido, vai sendo transformado...e, então, já não é mais real para esse outro momento.
Parece que é assim que vamos caminhando, com flexibilidade, em cima do fio que balança, percebendo sem rigidez,sensivelmente, o próximo balanço do fio, que vai nos levando a novos olhares, novas visões, novos momentos...
Sri Aurobindo diz que tudo o que serviu durante um período, foi para "aquele" período, não quer dizer que vá servir para a vida toda sempre do mesmo jeito. Isso é rigidez e perdemos o sensível e delicado balance da vida. Mesmo os relacionamentos de amores e amigos podem durar uma vida toda, mas apenas se forem relidos, revisados, transformados todo o tempo, incansavelmente...Se não, perdem a vida, a força, a luz...Aí fica a casca da coisa, sem a coisa.
E que linda fica a coisa revisada, re-olhada , re-tudo...
So, então, entonces...Vamos revisando tudo, relendo tudo, amorosa e incansavelmente.
Tudo isso também nos faz entrar em contato com a dor.
Entramos em contato, sentimos e, ao sentir, ela se transforma e pode se abrir em flor...ou não...

Vamos caminhando, "seres despertos de olhar profundo", vamos caminhando ...
Porque " a vida, a vida, a vida...a vida só é possível reinventada" ( Cecília Meireles)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

As Cenas Infantis de Schumann e o Sonho meu, de Bethânia

Bethânia canta: sonho meu, sonho meu, vai buscar quem mora longe, sonho meu...

Sempre fiquei encafifada com esse negócio de sonho! Um termo que não costumo usar, a não ser no que se trata do sonho, sonho mesmo, aquele que a gente tem quando dorme, e que é ótimo ter. O universo onírico faz uma ponte bacana com a vida acordada da gente, 'as vezes as fichas caem, compreendemos coisas da nossa vida, como também podemos ter "aquele" sonho clarificador, mensagem do inconsciente, mensagem do ser interno...Mestre Jung e os junguianos que o digam!!
Agora - ao sonho que se sonha acordado, não sou muito chegada. Tem alguma coisa nisso que me afasta, algum relacionamento íntimo com fantasia, com viagens imaginárias, com idealizações, pretensões, escapismos...
 Principalmente, uma ligação íntima com ilusão ( e aí compreendemos bem o conceito de maya, para os indianos).
Civilizações foram baseadas nisso, nesse conceito da vida ser "maya", ilusão.
A gente até fala: "fiquei tão desiludida", como se isso fosse uma coisa bem ruim. Mas, então, ilusão é coisa boa? Ficar iludido , viver iludido é coisa bacana?
  Como se a realidade fosse alguma coisa ruim, feia, e precisássemos "contrabalançar" com  sonho. Mesmo o "sonho de padaria" é enganador, é gostosinho, mas inundado de fritura daqueles óleos nem um pouco virgens, já pra lá de rodados.E aí o nosso estômago, que trabalha no tempo presente, refuga um bocado e quer sair do sonho e cair na real. Uma hora o tempo presente vence, ainda bem! Mas, até isso acontecer, vai doer, meu irmão, o estômago vai reclamar com o sintoma da dor. Hora do chá quentinho, do agrado nele ( no plexo solar, por favor, não com a mão lá dentro...)Carinhos condizentes com a "perda da ilusão"!
Eu conheço esse caminho do estômago, por isso lhes falo agora! A G O R A !
Acho que temos muita sorte em vivermos num tempo em que o sentido da realidade começa a ser ansiado , buscado, trabalhado com afinco. Algo como " a esperança é agora", não está numa vida futura ou na aquisição disto ou daquilo.
Huxley começa seu inesquecível romance " A Ilha" com essas palavras  :"Aqui e Agora " , "Atenção" , "Atenção para a Atenção".
Quantos inspiradores mestres a nos apontar isso!
Eckhart Tolle está aí nos lembrando que é impossível acessar uma nova consciência sem "estar no momento presente". Sem estar em si mesmo. Aceitando o que está no presente, na realidade do momento. 
Palavra mágica, "aceitação"! Mas o sonho da criança continua buscando os alakazim-alakazão, os shazam, os pirlimpimpim...
A diferença é que a primeira - aceitação - é trabalhada dentro da gente e as seguintes, as da magia, veem de fora, acontecem " de grátis"...rsrs...( Confesso meu encantamento com o pirlimpimpim, minha criança sempre foi encantada com  o sítio do picapau amarelo...)
Sri Aurobindo já nos disse, em começos do sec XX, que "a vida toda é yoga". Isso foi um boom inovador, mais ou menos como deve ter sido a passagem dos macacos , que recebiam a vibração vital, para os aprendizes de humanos,que começaram a  receber as primeiras vibrações mentais. Ou seja, cada segundo vivido na vida, em qualquer situação - boa, ruim, péssima, maravilhosa -  é o que tem que ser, o que está aí como material incandescente para nossa aceitação e transformação.Para nosso aprendizado. Formidável e terrível isso, porque , 'as vezes, o que mais queremos é "sair daqui e ir para ali" - lá deve estar melhor, por um motivo ou por outro, principalmente porque não vai ter aqueles elementos da minha vida que são difíceis de encarar, pedras nos sapatos, ossos duros de roer...
Ainda não realizávamos talvez ,que, quando "tem uma pedra no meio do carinho", podemos subir na pedra divisora dos terrenos, conciliando o que antes poderia ser classificado como "oposição". Viva o facebook, onde circulou esse post tão inspirado e inspirador!E viva a quântica, que nos mostrou a interligação de tudo, de que não há opositores!
Se isso pode funcionar com as pequenas oposições no nosso cotidiano, pode funcionar também com as grandes questões de vida/morte, bom/ruim, realidade/sonho,amor/ódio...
Se formos lembrar do pessoal mais antigo ( e isso nem sempre tem a ver com idades...), havia uma tendência grande a ter uma vida rica de sonhos acordados. Lembro da minha mãe, Maria Pureza, costurando e cantarolando as músicas de Francisco Alves e outros dessa época, onde as deusas da minha rua  viviam em cada esquina , pisando nos astros, distraídas...Dava pra ver o olhar meio perdido, dava até pra "ver" as formações que povoavam o imaginário dela, ela própria, uma deusa distraída...
Nesse contexto que falamos, o sonho entrava como uma espécie de "antídoto" ao momento presente...
Bem, se o sonho acabou, é porque não era real.

Com todo esse bolodoro escrito, quero só dizer que  parece que o sonho é da criança em nós e o estado acordado é próprio do nosso adulto. Acordado no sentido de "desperto" ( porque podemos não estar a dormir , mas estarmos profundamente adormecidos...)
 Fazendo um link com o começo desse texto, a historinha foi assim:
- Estava eu há pouco lá em cima, estudando as Cenas Infantis de Schumann, que vou tocar em outubro.
São 13 pequenas e notáveis peças , onde ele fala com  som sobre o universo da criança.E passando por todos aqueles títulos que ele dá, ao iniciar Traumerai, onde a criança sonha, senti o click que me deu vontade de escrever aqui:
O SONHO É DA CRIANÇA, nossa linda criança, a criança de todos nós...

E lembrei agora de Drummond, quando ele diz que "prepara uma canção que faça adormecer as crianças e acordar os homens".
Sabido Drummond!
A realidade É o milagre, o próprio, vivemos dentro do milagre de cada momento, esse caleidoscópio onde tudo está sempre em mutação...
Talvez quando o adulto fala "sonho", ele está querendo dizer " milagre", talvez...

Só pra confirmar isso, ouçam as Cenas Infantis de Schumann, de preferência tocadas pela Maria João Pires.
E comprem um caleidoscópio - eu já tenho o meu...

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O casulo e a borboleta ( e, de quebra, um beija-flor...)


A mãe-natureza colocou outro dia um casulo pendurado numa pequena árvore daqui da minha chacrinha.
Olhei...e ele estava lá . Saindo de dentro dele  havia  uma ponta do que pensei que fosse o começo do esforço dela, borboleta, e depois vi que já era o final do processo. Como disse uma cliente minha - ela já havia saído e deixou a casquinha final, um pequeno " tchau, já estou esvoaçando por aí, no meu habitat natural"! Esforço feito, cumprido, início da fase alada.
Borboleta, pra mim, é um símbolo muito forte. Sempre foi, desde que me lembro de mim.
O processo-lagarta-casulo-escuro-esforço-esforço-esforço-estou me transformando-estou morrendo-estou em forma nova-saio-me liberto-estou mais que nunca viva- livre no ar-aprendendo a voar...
E o medo? E a incerteza? Como será o mundo desse outro olhar? Do olhar de quem voa? De quem não rasteja? De quem participa do mundo de dentro, de cima, de baixo, de todos os lados...?
A encarnação do cântico da Cecilia em "Renova-te, renasce em ti mesmo" e mais pro final "Sê sempre o mesmo, sempre outro, sempre alto, e dentro de tudo".
Tenho a mania de achar que tudo que me acontece é uma chance de renovar meu olhar, de conectar isso com aquilo, de refazer minhas sínteses, de me debruçar e deixar o ocorrido, seja o que for, me dar seus toques preciosos. Sabe aquela coisa de ir linkando todos os conteúdos de sua vida? Manias de terapeuta!!E de quem quer crescer e amadurecer.
Impossível  olhar para uma borboleta sem lembrar de todo o processo forte que ela passa!E da ideia de mortes e renascimentos!Ela é bem associada 'a viagem da alma em nós. Reconhecemos o que essa nossa companheira e instrutora passa. Sabemos, por experiência, que esse tão lindo caminho - o nosso e o dela -  tem dores, medos, sustos, desesperanças, desconfianças...E o medo do escuro? E a mente desconfiada ( a nossa...) que repete seu jargão sem fim do "será que vai dar certo?" E os" momentos de túneis", quando estamos em túneis longos , onde a luz do sol é apenas uma bela lembrança?
Sempre penso nessa história da borboleta, na história da alma também e na história do lótus: a flor do lótus nasce na lama, na escuridão do fundão, vem corajosamente subindo através da água e abre-se no ar, gloriosa...Na Índia a viagem do lótus é associada 'a viagem da alma.
Então, o que temos pra hoje - eu, você, nós, vós, eles...?
Temos o presente do"hoje", mais uma pedrinha que vai remontando o nosso quebra-cabeças, mais uma renovação da síntese, mais um aprendizado...
Humanos aprendendo a viver, a amar, a não controlar, a rir , a se soltar na roda da vida...
"Roda-mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião, o mundo( o tempo) rodou num instante, nas voltas do meu coração..."

PS- Lembrei do beija-flor lá de cima, do título.
Bom, ele é pequenino, lindo e companheiro, vem dar bom dia sempre que estou triste e confusa...
Esse texto é para ele, em gratidão! Beijos.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A chave-cinderela




Faz um tempinho que esse tema tem me intrigado!Como trabalho muito com mulheres, eu própria uma mulher, com mãe- mulher, filha- mulher, amigas- mulheres etc...tenho conhecido e reconhecido a dor oculta e escancarada das mulheres, sua força, sua coragem, seus sonhos, esperanças, buscas...E também tenho conhecido e reconhecido as dificuldades de relacionamento com seus parceiros, suas ( nossas...) queixas, sua vontade de crescer e obstruções a isso, suas desilusões, suas fugas reais ou imaginárias...
E comecei a procurar aquela antiga e sempre nova Cinderela escondida no seio arfante de cada mulher...
Vocês vão me dizer:  - Mas, como assim, nós já fomos 'a luta, já mostramos quem somos, já arregaçamos nossas mangas, batalhamos e trabalhamos, nos afirmamos, provamos a que viemos!!E você vem com essa história de Cinderela??
Pois  é...
Sempre gostei dos mitos, das histórias, das fábulas...Esopo, La Fontaine, os gregos, nossa rica mitologia brasileira desvelada 'as crianças por Lobato, as pequenas sereias, os peter pans, as cinderelas...
Parece-me que, bem incrustada dentro de cada história tem um lugar sagrado, um nicho com joia rara, uma luz que vem da verdade;que a gente precisa investigar, descer nos seus porões, procurar analogias, ir fazendo sínteses etc...
E tanto e tanto já se foi estudado sobre tudo isso!! Os junguianos que o digam!
Mas agora quero, a partir do conceito, ir entrando na experiência, que, pra mim, é o que mais vale.
Tenho me debruçado  sobre isso, com afinco.Tenho tido muitas experiências em primeira pessoa, insights,  lido muito, observado atentamente.
Outro dia, conversando com uma senhorinha de quase 90, percebi o quanto ainda esperava "seu príncipe" no silêncio do seu coração - claro que sem nenhuma consciência disso.E o quanto se sentia desiludida " por ele não ter chegado"...
Cinderela não tem idade.Ela é atemporal e mora no palácio do nosso inconsciente coletivo, sempre assistida pelos escravos da ilusão, do medo, das fobias, do emocional dolorido e  imaturo - que a mantém viva lá.
Por isso ela é escrava, a Gata Borralheira , que deve ter continuado escrava ao partir na sua carruagem luxuosa depois do casamento ( claro que o conto só vai até aí...), porque o ato de "casar com o príncipe" não significou libertação. Significaria o começo de uma nova fase, da descoberta do seu labirinto interno, do encontro com a própria dor, da sustentação e conhecimento dessa dor, das suas muitas feridas, do início do seu caminho de cura. Que momento importante quando ela parte para isso,para um começo de vida. Mas...ela, apoiada por toda uma sociedade imatura como ela, por eras e eras, terá dificuldades em dar passos para libertação. Pois está sob encantamento severo, rendida 'as ilusões, entregando a responsabilidade da sua vida " ao outro". Pobre príncipe, também ele um Peter Pan , precisando urgentemente crescer e amadurecer,  preso na Terra do Nunca...

Não, não pensem que lamento tudo isso, ao contrário!

Vejo neles, cinderelas e peter pans, nossas chaves valiosas, pertencentes a homens e mulheres, para sairmos desses encantamentos do inconsciente e irmos para a luz do sol.
Caetano diz que tudo é " o avesso, do avesso, do avesso". E é!
Tudo é o contrário do que parece.
No fundo da maior inconsciência está a chave da maior consciência, a chave da libertação.
A mulher tem sua chave-cinderela, o homem tem sua chave- peter-pan!
Parceiros de crescimento, usando os espelhos um do outro, um para o outro. Embora , sem o outro também, a chave é de cada um.

Pirlimpimpim, 1,2,3...usando!! ( ah, se fosse só assim...mas a travessia é longa, longa  e trabalhosa, heroica mesmo, embora apoiada pela energia desses novos tempos, o que significa que estamos seguros nesse trabalho, simplesmente porque queremos conhecer, nos conhecer, ir adiante, crescer, amadurecer...)

E caminhamos. A luz do sol da alegria nos espera, desde sempre!

PS - Se alguém ler esse texto meu e se interessar pelo tema, procurem "Complexo de Cinderela" da Colette Dowling e " A Síndrome de Peter Pan" de Dan Kiley - será interessante.