A música e a nossa vida...
Como diz o velho axioma: assim na música, assim na vida!
Nossa expressão na música diz muito sobre nós, de como é nossa expressão na vida. Sempre pensei assim e continuo. Quero dizer que, quando tocamos, cantamos ,dançamos... é o que temos dentro de nós que é expressado, colocado pra fora. O dentro e o fora, inside and outside são os 2 lados de um mesmo todo.
Porque o que queremos é ser verdadeiros na expressão, autênticos, queremos que nosso veículo humano se revele aqui fora, à luz do dia, trazendo toda nossa bagagem interna e se acasalando com a forma aqui de fora. Somente a forma bem feita, bem estudada, bem acabada, não nos interessa. O que nos interessa é o verdadeiro homem dentro, como disse Rolf ( Gelewski) nas suas Estruturas Sonoras.
Mas, claro que, para isso, muito trabalho externo, muito estudo, leituras, reflexões, tudo é necessário e bem vindo. Reconhecemos um bom pianista de jazz hoje porque tem uma boa base, uma estrutura de mão pianística, que pode tocar com propriedade uma bela fuga de Bach e isso está contido no seu toque jazzístico.
Aí lembro da Nina ( Simone) e o seu pianismo maravilhoso, junto a seu vocal potente.
Ou seja: os nossos dois lados gêmeos precisam se acasalar pra que a gente consiga uma expressão bela e íntegra, que traga um suave aroma do nosso íntimo e esse aroma invada e preencha os espaços externos desse belo - e difícil - mundo em que vivemos.
Nolini Kanta Gupta nos fala sobre a verdadeira educação : " Todo o conhecimento está dentro de você. Informações você recebe de fora, porém a compreensão delas é do íntimo. A informação exterior lhe dá matéria inerte. O que coloca vida nela, luz para dentro dela, é sua própria luz interna. ...Toda educação, toda cultura significa projetar esta luz interna para a frente. Na verdade, a palavra " educação" significa literalmente " trazer para fora". Platão também apontou a mesma verdade quando disse que a educação é lembrança."
Nesse mundo pós moderno em que vivemos estamos praticamente atolados em informações de todo tipo. Quase não podemos nos mover diante desse Everest que toma conta de todos os cantinhos da nossa mente. Precisamos mesmo de uma força hercúlea, junto a uma sabedoria crescente, pra nos concentrarmos no que realmente importa.
Porque os conhecimentos, mesmo os melhores, podem " esmagar" a luz, com a nossa orgulhosa mente, com o nosso orgulhoso intelecto, ao invés de realçar o Conhecimento.
E é esse Conhecimento que pode fazer a reunião dos muitos saberes com o coração dentro, porque, enquanto os conhecimentos podem "pesar e apagar e confundir", o Conhecimento pode colocar todas as informações a serviço de uma verdadeira compreensão, clara e consciente.
Porque precisamos da espontaneidade simples e natural do coração, que deve andar conosco nesse caminho de autoconhecimento, autodesenvolvimento, autodescobertas constantes.
E precisamos de consciência, porque a verdadeira educação é crescimento de consciência.
Quando Svetaketu pediu a seu pai, Udalakka, que lhe mostrasse o verdadeiro conhecimento, ele devia querer exatamente que Udalakka o ajudasse a reunir seus conhecimentos acadêmicos dentro de uma luz maior.
Ele percebeu que seus muitos conhecimentos significavam menos do que o do seu pai, que não estivera aprendendo nos locais onde ele estivera mas que tinha a sabedoria verdadeira.
Assim na música, assim na vida... A música é nossa querida mestra. Queremos cada vez mais que ela se desvele e nos revele seu coração de ouro e luz .
Nessa nossa cansada civilização, nessa nossa Sociedade do Cansaço ( Byung Chul - Han), termos esse Farol em nossas vidas é muito merecimento!
Que consigamos nos abrir pra ela, abrir nosso coração para a beleza e a transformação que ela pode proporcionar, nos tocando!
O que vamos ouvir agora, nesse Música e Autoconhecimento ( interrogação!)
Sugiro uma seleção:
Partita número 1 de Bach, tocada poeticamente pela linda Maria João Pires; "Eternal Source of Light Divine" de Händel ; uma poesia de Rabindranath Tagore ; A Valsa da Dor de Villa Lobos.